9 de jun. de 2013

Defeito do Septo Interventricular associado à Estenose Pulmonar - Relato de Caso - Anclivepa - 2012


DEFEITO DO SEPTO INTERVENTRICULAR ASSOCIADO À ESTENOSE

PULMONAR EM CÃO - RELATO DE CASO

Priscilla Regina Nasciutti1, Isabela Bittar2, Moisés Caetano e Souza3, Rosângela de Oliveira Alves4

1Mestranda - Universidade Federal de Goiás – UFG - prinasciutti@gmail.com

2 Graduanda – Universidade Federal de Goiás - UFG

3 Residente – Universidade Federal de Goiás - UFG

4 Professor adjunto - Universidade Federal de Goiás - UFG

 

Resumo

Uma poodle, quatro meses, apresentando episódios de síncope foi atendida pelo Serviço de Cardiologia Veterinária. Ao exame clínico, foi observado sopro contínuo na base do coração, mais audível no foco pulmonar. O exame eletrocardiográfico foi sugestivo de sobrecarga ventricular direita. Comunicação interventricular e estenose pulmonar foram diagnosticadas por meio de ecocardiografia. O tratamento preconizado foi o uso de atenolol, associado à dieta hipossódica e repouso.

 

Palavras-chave: cardiopatia, congênita, filhote.

 

Introdução

A cardiopatia congênita é a alteração cardíaca mais freqüente nos animais com menos de um ano e sua prevalência tem sido estimada em 0,67% a 0,85%. Os defeitos mais comuns incluem Persistência de Ducto Arterioso (PDA), Estenose Aórtica Subvalvular (ESA), Estenose Pulmonar (EP), Displasia Mitral e Tricúspide, Defeitos Septais Atriais e Ventriculares (DAS e DSV) e a Tetralogia de Fallot (SILVA FILHO et al., 2011).

Intolerância ao exercício e evidência de insuficiência cardíaca são as manifestações clínicas mais comuns de DSV, embora muitos animais sejam assintomáticos. Na radiografia torácica os defeitos levam ao aumento do coração esquerdo, porém um aumento ventricular direito ocorre na presença de grandes defeitos. O eletrocardiograma (ECG) pode ser normal ou sugestivo de aumento ventricular esquerdo ou direito; o ecocardiograma revela a localização do defeito e mostra também a direção do shunt. Cães com defeitos pequenos a moderados podem ter uma expectativa de vida relativamente normal. Ocasionalmente, o defeito fecha espontaneamente dentro dos primeiros dois anos de vida. Em animais com grandes defeitos é provável que se desenvolva insuficiência cardíaca congestiva, embora hipertensão pulmonar com shunt reverso também possa acontecer.

O tratamento definitivo requer cirurgia intracardíaca (SILVA et al, 2005; WARE, 2006). A Estenose Pulmonar (EP) é definida por FLORES & MORAES (2008) como uma malformação congênita valvar, que consiste em um estreitamento localizado em qualquer ponto desde o trato de saída do ventrículo direito até a artéria pulmonar principal, sendo mais comum a estenose valvar ou subvalvar. O sopro da EP é mais audível no lado esquerdo do tórax na base do coração na área da valva pulmonar. Nos casos mais graves, o ECG pode ser sugestivo de aumento de ventrículo direito. A radiografia torácica pode revelar ventrículo direito proeminente e uma dilatação pós-estenótica do tronco pulmonar. A ecocardiografia mostra hipertrofia septal e ventricular, estenose muscular secundária da via de saída do ventrículo direito e dilatação do tronco pulmonar. A terapia inclui o uso de b-bloqueador ou ainda correção cirúrgica (SILVA FILHO et al., 2011).

 

Relato de caso
 
Uma poodle, de quatro meses, foi atendida com histórico de episódios de síncope e cianose. Durante o exame físico, observou-se sopro contínuo na base do coração, mais audível no foco pulmonar, de grau 3/6. Foi realizado eletrocardiograma evidenciando taquicardia sinusal e aumento de amplitude de ondas S, sugestivo de sobrecarga ventricular direita, além de desvio do eixo cardíaco à direita. Ao exame ecocardiográfico foram observados hipertrofia concêntrica ventricular direita, presença de defeito de septo interventricular (7,3mm), função sistólica ventricular esquerda preservada e presença de fluxo turbulento no tronco pulmonar, com dilatação da artéria pulmonar esquerda, confirmando o diagnóstico de comunicação interventricular e estenose pulmonar. O tratamento preconizado foi o uso de atenolol, uma vez ao dia, associado a dieta hipossódica e repouso.

 

Discussão

Segundo WARE (2006) um sopro, especialmente se for de alta intensidade, num jovem filhote de cão pode ser uma indicação de doença congênita, o que foi observado no caso descrito. O diagnóstico da cardiopatia congênita foi realizado no quarto mês de vida da cadela, o que condiz com o descrito por SILVA FILHO (2011).

Para filhotes com sinais semelhantes ao relatado (síncope e cianose), a melhor forma de diagnóstico é a avaliação ecocardiográfica. Porém a auscultação cardíaca e ECG fornecem os primeiros indícios de cardiopatia congênita. Os achados de sopro contínuo mais audível no foco pulmonar aliado aos episódios de síncope constituem indício de estenose pulmonar (SILVA FILHO et al., 2011). O ECG revelou aumento de amplitude de onda S, sugestivo de sobrecarga ventricular direita, o que ocorre nos casos de EP devido à obstrução do fluxo sanguíneo na saída do ventrículo direito, gerando o desenvolvimento da hipertrofia ventricular direita concêntrica em virtude do aumento na sobrecarga de pressão intraventricular. Essa hipertrofia miocárdica origina-se com a finalidade de manter a função sistólica ventricular, permitindo que o volume ventricular direito adequado (SILVA FILHO et al., 2011). A ecocardiografia confirmou o diagnóstico de DSV e a presença de hipertrofia concêntrica ventricular direita assemelha-se ao descrito por WARE (2006) em animais com grandes defeitos. A observação de fluxo turbulento no tronco pulmonar e dilatação da artéria pulmonar confirmaram o diagnóstico de estenose pulmonar. O tratamento instituído utilizando atenolol é o recomendado por SILVA FILHO et al. (2011), com o objetivo de reduzir a demanda de oxigênio pelo miocárdio com o aumento na perfusão coronária.


Conclusão

A avaliação cardíaca de filhotes é grande importância uma vez que anomalias congênitas podem levar a morte súbita. O ECG e o ecocardiograma fornecem todas as informações necessárias para o diagnóstico definitivo, contudo o tratamento ainda é bastante discutido.

 
Referências

FLORES, F. N.; MORAES, A. N. Conduta anestésica para procedimentos de correção de estenose pulmonar em cães – Revisão. Revista da FZVA, v.15, n.1, p.141-151, 2008.

SILVA FILHO, J. C.; JORGE, P. S.; FRANCO, R. P. Alterações eletrocardiográficas de um cão com estenose da valva pulmonar, antes e após terapia a base de maleato de enalapril e atenolol. Acta Veterinária Brasilica, v.5, n.1, p.92-99, 2011.

 
WARE, W. A. Anomalias cardíacas congênitas comuns. In: NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Medicina Interna de Pequenos Animais. 3ed. São Paulo: Elsevier, 2006. cap.9. p.147-164.

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