DEFEITO DO SEPTO INTERVENTRICULAR ASSOCIADO À ESTENOSE
PULMONAR EM CÃO - RELATO DE CASO
Priscilla Regina Nasciutti1, Isabela Bittar2, Moisés
Caetano e Souza3, Rosângela de Oliveira Alves4
1Mestranda
- Universidade Federal de Goiás – UFG - prinasciutti@gmail.com
2 Graduanda
– Universidade Federal de Goiás - UFG
3 Residente
– Universidade Federal de Goiás - UFG
4 Professor
adjunto - Universidade Federal de Goiás - UFG
Resumo
Uma
poodle, quatro meses, apresentando episódios de síncope foi atendida pelo
Serviço de Cardiologia Veterinária. Ao exame clínico, foi observado sopro
contínuo na base do coração, mais audível no foco pulmonar. O exame
eletrocardiográfico foi sugestivo de sobrecarga ventricular direita.
Comunicação interventricular e estenose pulmonar foram diagnosticadas por meio
de ecocardiografia. O tratamento preconizado foi o uso de atenolol, associado à
dieta hipossódica e repouso.
Palavras-chave:
cardiopatia, congênita, filhote.
Introdução
A
cardiopatia congênita é a alteração cardíaca mais freqüente nos animais com menos de
um ano e sua prevalência tem sido estimada em 0,67% a 0,85%. Os defeitos
mais comuns incluem Persistência de Ducto Arterioso (PDA), Estenose Aórtica
Subvalvular (ESA), Estenose Pulmonar (EP), Displasia Mitral e Tricúspide,
Defeitos Septais Atriais e Ventriculares (DAS e DSV) e a Tetralogia de Fallot
(SILVA FILHO et al., 2011).
Intolerância
ao exercício e evidência de insuficiência cardíaca são as manifestações
clínicas mais comuns de DSV, embora muitos animais sejam assintomáticos. Na
radiografia torácica os defeitos levam ao aumento do coração esquerdo, porém um
aumento ventricular direito ocorre na presença de grandes defeitos. O
eletrocardiograma (ECG) pode ser normal ou sugestivo de aumento ventricular
esquerdo ou direito; o ecocardiograma revela a localização do defeito e mostra
também a direção do shunt. Cães com defeitos pequenos a moderados podem
ter uma expectativa de vida relativamente normal. Ocasionalmente, o defeito
fecha espontaneamente dentro dos primeiros dois anos de vida. Em animais com
grandes defeitos é provável que se desenvolva insuficiência cardíaca congestiva,
embora hipertensão pulmonar com shunt reverso também possa acontecer.
O
tratamento definitivo requer cirurgia intracardíaca (SILVA et al, 2005; WARE,
2006). A Estenose Pulmonar (EP) é definida por FLORES & MORAES (2008) como
uma malformação congênita valvar, que consiste em um estreitamento localizado
em qualquer ponto desde o trato de saída do ventrículo direito até a artéria
pulmonar principal, sendo mais comum a estenose valvar ou subvalvar. O sopro da
EP é mais audível no lado esquerdo do tórax na base do coração na área da valva
pulmonar. Nos casos mais graves, o ECG pode ser sugestivo de aumento de
ventrículo direito. A radiografia torácica pode revelar ventrículo direito
proeminente e uma dilatação pós-estenótica do tronco pulmonar. A ecocardiografia
mostra hipertrofia septal e ventricular, estenose muscular secundária da via de
saída do ventrículo direito e dilatação do tronco pulmonar. A terapia inclui o
uso de b-bloqueador ou ainda correção cirúrgica (SILVA FILHO et al., 2011).
Relato de
caso
Uma
poodle, de quatro meses, foi atendida com histórico de episódios de síncope e
cianose. Durante o exame físico, observou-se sopro contínuo na base do coração,
mais audível no foco pulmonar, de grau 3/6. Foi realizado eletrocardiograma
evidenciando taquicardia sinusal e aumento de amplitude de ondas S, sugestivo
de sobrecarga ventricular direita, além de desvio do eixo cardíaco à direita.
Ao exame ecocardiográfico foram observados hipertrofia concêntrica ventricular
direita, presença de defeito de septo interventricular (7,3mm), função
sistólica ventricular esquerda preservada e presença de fluxo turbulento no
tronco pulmonar, com dilatação da artéria pulmonar esquerda, confirmando o
diagnóstico de comunicação interventricular e estenose pulmonar. O tratamento
preconizado foi o uso de atenolol, uma vez ao dia, associado a dieta
hipossódica e repouso.
Discussão
Segundo
WARE (2006) um sopro, especialmente se for de alta intensidade, num jovem
filhote de cão pode ser uma indicação de doença congênita, o que foi observado
no caso descrito. O diagnóstico da cardiopatia congênita foi realizado no
quarto mês de vida da cadela, o que condiz com o descrito por SILVA FILHO
(2011).
Para
filhotes com sinais semelhantes ao relatado (síncope e cianose), a melhor forma de
diagnóstico é a avaliação ecocardiográfica. Porém a auscultação cardíaca e ECG
fornecem os primeiros indícios de cardiopatia congênita. Os achados de sopro
contínuo mais audível no foco pulmonar aliado aos episódios de síncope
constituem indício de estenose pulmonar (SILVA FILHO et al., 2011). O ECG
revelou aumento de amplitude de onda S, sugestivo de sobrecarga ventricular
direita, o que ocorre nos casos de EP devido à obstrução do fluxo sanguíneo na
saída do ventrículo direito, gerando o desenvolvimento da hipertrofia
ventricular direita concêntrica em virtude do aumento na sobrecarga de pressão
intraventricular. Essa hipertrofia miocárdica origina-se com a finalidade de
manter a função sistólica ventricular, permitindo que o volume ventricular
direito adequado (SILVA FILHO et al., 2011). A ecocardiografia confirmou o
diagnóstico de DSV e a presença de hipertrofia concêntrica ventricular direita
assemelha-se ao descrito por WARE (2006) em
animais com grandes defeitos. A observação de fluxo turbulento no tronco pulmonar
e dilatação da artéria pulmonar confirmaram o diagnóstico de estenose pulmonar.
O tratamento instituído utilizando atenolol é o recomendado por SILVA FILHO et
al. (2011), com o objetivo de reduzir a demanda de oxigênio pelo miocárdio com
o aumento na perfusão coronária.
Conclusão
A
avaliação cardíaca de filhotes é grande importância uma vez que anomalias congênitas
podem levar a morte súbita. O ECG e o ecocardiograma fornecem todas as
informações necessárias para o diagnóstico definitivo, contudo o tratamento
ainda é bastante discutido.
Referências
FLORES,
F. N.; MORAES, A. N. Conduta anestésica para procedimentos de correção de
estenose pulmonar em cães – Revisão. Revista da FZVA, v.15, n.1,
p.141-151, 2008.
SILVA
FILHO, J. C.; JORGE, P. S.; FRANCO, R. P. Alterações eletrocardiográficas de um
cão com estenose da valva pulmonar, antes e após terapia a base de maleato de
enalapril e atenolol. Acta Veterinária Brasilica, v.5, n.1,
p.92-99, 2011.
WARE, W.
A. Anomalias cardíacas congênitas comuns. In: NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Medicina
Interna de Pequenos Animais. 3ed. São Paulo: Elsevier, 2006. cap.9.
p.147-164.
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